quinta-feira, 10 de março de 2011

Literatura e linguagem na primeira infância






Enquanto somos crianças, enfrentamos alguns problemas quando ainda não temos formadas as expressões básicas para a nossa comunicação com as pessoas que nos rodeiam. A aprendizagem das palavras necessita de muitos esforços: aprender a ouvir o outro, aprender o significado das coisas, imitar o adulto, fazer parte de um contexto no qual o adulto nos dá o suporte para adquirirmos a linguagem.

Mesmo ainda muito pequenas, as crianças expressam-se de formas diferentes: com expressões faciais, gestos, mímicas, e até por meio de alguns códigos estipulados no convívio familiar. Isso às vezes ajuda, mas em outras ocasiões atrapalha - e muito. Tenho observado isso em minha experiência como educadora. No primeiro contato com a escola, por meio do qual a criança começa a conviver com novos adultos e crianças, surge uma possibilidade de se expressar com um vocabulário mais restrito ou não.

Ao ensinar uma criança essa nova aquisição de vocabulário, também nos deparamos com palavras que às vezes são indecifráveis num primeiro momento. Por exemplo, para uma determinada criança, a palavra "budi" pode significar "Quero colo"; "didio" pode ser chupeta ou bico; "xaxaxa" pode querer dizer bolacha. O que acontece quando ela se vê em sala de aula com colegas que usam outros códigos para se comunicar e que a professora tenta decifrar? É um trabalho árduo de interpretação, mas nós, educadores, conseguimos!

A simples competência de perguntar e responder para os adultos é formada a partir dos significados que as crianças estabelecem sobre o que desejam saber. A interação com o educador é peça fundamental, pois oportuniza, além da explicação, a aprendizagem de modo simples, por meio da imitação da fala dos adultos, os quais contam histórias, relatam acontecimentos da vida cotidiana. As crianças falam sobre viagens, cantam, ensinam rimas e trava-línguas, canções, decifram bilhetes e cartazes, leem rótulos, estabelecem hipóteses, constroem fantasias, enfim, realizam algumas ações a partir do pedido dos adultos, adquirindo a oportunidade de exercitar a linguagem, além de aperfeiçoá-la.

Na escola, as brincadeiras auxiliam as crianças para que vão internalizando alguns afazeres aprendidos e exercitados em grupo com o auxílio da professora, de maneira a incluí-los em um grupo com códigos já convencionais e de entendimento geral do novo grupo social formado. Os conflitos aparecem e fazem parte do movimento de transformação da vida das crianças, concretizando as diferentes formas de argumentar e dialogar a respeito dos acontecimentos sem utilizar-se da força física para sua resolução.

As crianças começam a descobrir através dos recontos, das histórias e dos contos de fadas aspectos que ajudam a vencer os medos e avançar na questão do pensamento e da capacidade de decodificar a realidade, a partir da diversidade de opiniões sobre variados assuntos acerca da comunicação e da nossa cultura.



 A arte de contar histórias já é milenar e tem servido como meio de comunicação entre povos. Fazemos isso sem perceber o tempo todo. Assim, a criança vai reelaborando e antecipando os acontecimentos, como se já tivesse se apropriado desse conteúdo, e pede para ouvir de novo aquilo que deseja entender.




 Devemos contemplar e incentivar esses momentos de desenvolvimento da linguagem pelos pequenos, uma vez que esse tempo da infância tem de ser bem-aproveitado.


O manuseio pelas crianças dos livros disponíveis em sala de aula, na biblioteca, em rodas de estudo e conversas faz com que, por meio da leitura de imagens, elas se apropriem do conteúdo do texto e das características dos personagens, descobrindo novas formas de recontar as histórias. O professor exerce o importante papel de ajudá-las nesse processo de descoberta de ideias, construindo uma linguagem expressiva e compreensiva, além do aprimoramento dos gêneros, explorados nas leituras feita em grupo. Ele pode fazer com que, em cada leitura, a criança interprete as sequências dos acontecimentos, ampliando significativamente seu vocabulário e seu repertório gramatical, sendo capaz de recriar novos enredos e desfechos para novas histórias, inventadas criativamente nos grupos de trabalho.

Ao professor também cabe um relevante papel na compreensão das manifestações das crianças, que começam a expor cada vez mais suas ideias e hipóteses sobre os diferentes assuntos abordados no grupo, seus desejos e necessidades, dúvidas e questões, podendo dar sugestões e opiniões nas diferentes situações vividas no cotidiano escolar e familiar. Essas atividades realizadas com o grupo organizam a fala da criança, no sentido de aprender a se comunicar cada vez melhor, desenvolvendo maior confiança e fluência, ampliando seu vocabulário e buscando justificativas no âmbito do próprio desenvolvimento e das relações entre pares, o que expressa sua subjetividade dentro e fora da sala de aula.

É fundamental socializar a linguagem e o pensamento no sentido da cooperação. A linguagem da criança não depende apenas de seu desenvolvimento, mas também do tipo de relação que ela mantém com o adulto em seu meio.

Adriana Dihl Moraes é licenciada em Pedagogia Pré-Escolar, especialista em Educação Infantil e professora de educação infantil na Escola Projeto, de Porto Alegre (RS).

Atividades de leitura realizadas com o grupo organizam a fala da criança, no sentido de aprender a se comunicar cada vez melhor, desenvolvendo maior confiança e fluência e ampliando seu vocabulário

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